06 setembro 2015

Hey,

tudo se encontra tão quieto esta noite e eu me pego pensando na fluidez dos sentimentos que permitem que eu aqui, longe de você, me conecte a você. Isto me dá uma ideia do por que tendemos a ficar distantes, como dois imãs fisicamente se repelindo. Posso sentir estes sentimentos preenchendo o pequeno cômodo em que me encontro, fecho os olhos e posso sentir o peso do mundo inteiro abaixo dos meus pés, sinto coisas que não podem ser transformadas em palavras. Como algo tão interno pode ser ao mesmo tempo tão externo e ainda assim impossível de se exteriorizar? Apenas mais um paradoxo que é deixado para nós. Se o falado amor pode ser traduzido com um simples “eu te amo”, então acho que não te amo, não é o bastante. E eu fico me perguntando, se tudo o que eu tenho para lhe dar está aqui dentro de mim, como entregar para você?

Sexta-feira, 20 de abril de 2015

Decidi consultar um especialista em metáforas.
Vi em sua sala um relógio preso em uma rotina cravejada de sonhos,
Um labirinto de espelhos carente de reflexos.
Como se eu não pudesse chegar até você, o tempo chega até mim, infinito, e me pede para esperar.

Sinto-me em uma viagem que sempre falta um quilômetro para acabar, doutor,
Uma casa perfeitamente mobiliada fechada para visitas.
Incoerente, devo dizer, ter olhos que enxergam melhor no escuro.

Sofro de platonismo, ele me disse.
Um diagnóstico de insanidade optar pela tortura,
Uma liberdade baseada em permanecer na torre.
Mesmo não podendo vê-lo, continuarei fiel, inerte, te amando em segredo.

Uma história de pelúcia

Eu conheci essa menina, Vanessa, muitos anos atrás em Lugar Nenhum. Ela era doce, educada, bochechas coradas do calor. A primeira vez que nos vimos, ela me abraçou como se nunca fosse me largar, e me abraçou várias vezes ao longo do dia, e aquela noite também, e nas noites seguintes. Havia muitas caixas pelo quarto, aos poucos elas iam sumindo, cada coisa ficava em seu devido lugar.

Um dia ela me contou que não a deixaram ir com seu vestido preferido no primeiro dia de aula da escola nova que coincidentemente era também o dia do seu aniversário, disse que agradeceu por isso depois, porque todos estavam de jeans e ela não queria estar diferente. Mal sabia ela que era mais diferente do que podia imaginar.

Eram tardes dormindo em cima dos livros estudando para as provas, correrias no almoço para chegar a tempo de assistir Floribella, isso quando não acontecia da máquina de lavar vazar e criar um pequeno lago no apartamento. 

Eu estava com ela no sofá quando vimos o clipe de quem logo mais seria sua cantora e série preferidas em todo o mundo, Hannah Montana é coisa de criança, diziam seus amigos, ela não parecia ligar, as músicas a faziam viver outras mil vidas, como os livros mais tarde fariam. Só fui entender o porquê dela querer outras vidas quando uns dias depois, foi dormir chorando, me abraçando um pouco mais forte que o normal, os pais dela iriam se separar.

O fim de semana começara agitado. Meu pai vem pra casa esse fim de semana, ela disse, vamos fazer como sempre, passar no mercado para comprar batata de potinho depois de pegá-lo no aeroporto e nos reunir no jantar. O pai dela vinha a cada quinze dias, às vezes mais, às vezes menos, por causa do trabalho longe. Recebeu a notícia no jantar.

Uma pequena menina, tão crescida, não porque tinha deixado de assistir Hannah Montana, ou de dormir com seu urso de pelúcia, mas porque ela estava chorando. Chorava porque entendia a situação, sabia que seus pais já vinham brigando, queria que fossem felizes para que ela pudesse ser feliz também. Chorava porque não queria perder aquilo que conhecia, situações novas são assustadoras quando se tem 12 anos.

Ela nunca parou de chorar, nem mesmo quando me abraçou a última vez, eu tinha feito tudo o que podia por ela, iria fazer outra criança feliz. A música agora seria o que embalaria as noites de sono dela, quando os trovões soarem, quando se apaixonar pela primeira vez, quando tiver seu coração partido várias e várias vezes pelas pessoas que mais ama. Aos poucos criaria um gosto musical definido, ou quem sabe gostaria de tudo que ouvisse. É inevitável que uma parte dela seja sempre uma pequena princesa Disney que sonhava com o amor verdadeiro e viu esse sonho se desfazendo em frente a ela. Eu a protegia, Hannah Montana a protegia, a música a protegia, dentro de sua própria bolha, construiu uma muralha.

Such a lonely day, and it's mine...

Existem coisas que você só dá valor quando perde, e existem coisas que você sempre deu valor e perde mesmo assim. Não, não é nenhuma filosofia, são coisas que acontecem todos dias. Alguns dias são simplesmente mais tristes, mesmo com aquele sol brilhando na sua janela, mesmo com as risadas do cômodo ao lado, mesmo com o sorriso mais fofo do mundo do seu cachorro para você, mas vamos começar do começo.

Algum dia de primavera de 2011, nossos corações bateram um pouco mais forte, talvez fossem os abraços, as brincadeiras, as disputas de “sou eu quem vai casar com você”, como o amor sempre acontece, de um instante para o outro, eu estava encantada por você. E você por mim. Não era complicado porque não tinha de ser. Bastava um olhar para que nos entendêssemos, até quando eu não te entendia, mas sabia o que você queria dizer. Estava tudo bem.

Não sei o que passou pela sua mente quando eu pisquei um não, nunca foi minha intenção te magoar, nem magoar os que estavam a minha volta, que também estavam encantados por mim, ou eles achavam que estavam. É uma droga ter amigos homens quando eles acham que se apaixonaram por você, só porque você está ali, acessível. Entretanto, um estava de verdade, um muito próximo nós, quer dizer, como eu poderia? Eu amava vocês dois o mais carinhosamente possível, amava tanto que poderia amarrá-los a mim só pra nunca os ver partindo. Eu amava você um pouco mais. Você sabe o que significaria estarmos juntos, não sabe? Magoá-lo tão perto, arriscar tudo o que tínhamos, era o meu mundo, não podia deixá-lo desabar. Por você valeria arriscar, mas eu não arrisquei.

Eu fui embora, e eu voltei. Você estava lindo, ainda com aquele brilho nos olhos, um pouco mais revoltado e com os mesmo abraços que poderiam curar o mundo. Ainda bem que eu quase caía toda vez que nos abraçávamos, quem poderia dizer quando eu iria te soltar? Você estava namorando e estava tudo bem para mim, o quê? Não há nada que eu deseje para você mais do que sua felicidade, eu não pretendia te trancar em um cofre longe de todas as mulheres do mundo. Ela não gostava de mim e estava tudo bem também, ainda tínhamos nossa sintonia nos tempos livres. 

Aos poucos ela foi tirando você de mim, eu percebi, não havia nada que eu pudesse fazer, você a escolheu, só cabia a mim aceitar a sua decisão. Não conseguia entender o ciúmes exagerado dela, ela não podia ver que não havia e nunca haveria nada? Sempre foi tão transparente para mim. Minha única resposta era que não cabia a mim entender, só aceitar a sua decisão.

O dia da formatura, o último dia. Eu, você e ele na sacada do espaço de eventos, sob um céu delicadamente estrelado. Eu não lembro de nada que foi dito, só lembro de me sentir a garota mais sortuda do mundo por ter vocês dois ali. Não parecia um adeus pra mim, mas eu sabia que era.

Dois ou três churrascos do nosso grupo até chegaram a me enganar que eu ainda o teria, com uma distância inevitável, mas teria. Enganada pelas minhas próprias esperanças, ela te tirou de mim como um fazendeiro reclama suas terras. Às vezes eu vejo suas fotos, você não parece mais aquele meu menino de 2011, você é todo dela. Hoje é um dia triste porque eu sonhei com você. Eu te abraçava como um adeus, você me puxou um pouco mais e disse que sentia minha falta. “Eu também sinto sua falta”, respondi. E fui embora para não voltar. Hoje é um dia triste porque eu sei que te perdi.

Não é uma história de amor, é uma história de amizade, fragmentada pelo tempo e pelas forças da natureza. “Vou passar a eternidade me perguntando se você sabia que eu estava encantada em conhecê-lo.”

Um amor verdadeiro (escrito em algum papel em meados de agosto de 2013)

Eu me lembro que há pouco mais de três anos, quando soube da sua leucemia, tive uma daquelas noites que a gente chora até pegar no sono. Eu chorava e pedia que você pudesse resistir até que eu estivesse pronta pra dizer adeus. A verdade é que, nós nunca estamos prontos pra nos despedir permanentemente de uma pessoa que amamos. De uma hora pra outra, nós temos que aceitar o fato que não poder mais dar um abraço apertado nela, ou fazê-la rir. Mas parando pra pensar, eu fui atendida. Hoje, eu estou madura o bastante pra perceber isso, pra perceber que depois desses mais de dez anos de marcapasso e últimos três de quimio, você estava cansada, e mesmo sendo teimosa querendo continuar morando sozinha e ainda indo pro forró sempre que podia, você estava cansada, e eu não podia ser egoísta em querer que lutasse para sempre, você merece ficar bem. Por esse motivo, eu não vou ficar triste pela sua partida, Vó, porque você não tinha medo, porque você sempre foi uma guerreira, porque você iria querer que eu também fosse forte. A saudade será eterna, mas eu sei que vão cuidar de você onde quer que esteja. Você me ensinou uma lição inesquecível: para uma relação perseverar, é preciso que os dois se amem igualmente, sem “eu amo mais”, sem rancor, sem esperar mais ou fazer menos do que você mesmo faria pelo outro, sem desistir. E eu vou levar esse espírito pela minha vida inteira. Obrigada por ter me apoiado sempre e sido quem você foi, descanse em paz. “Te amarei de janeiro a janeiro, até o mundo acabar.”

04 abril 2015

Sobre o amor verdadeiro

Senta que lá vem história... no último fim de semana eu fui assistir o live action de Cinderela que estreiou recentemente, os sentimentos se misturaram com o passar do filme, eu me sentia feliz, porque o filme era lindo, como qualquer romance de contos de fadas; eu me sentia nostálgica, porque eu me sentia como uma garotinha vendo toda aquela mágica; e eu me sentia triste, porque não tenho certeza se acredito mais em toda essa magia.

Existem diferentes tipos de magia, existe a magia das histórias, com brilho, fadas madrinhas e encantos, existem aquelas que chamamos no nosso mundo de milagres, e existem pequenas magias que acontecem no nosso cotidiano e que nem sempre estamos atentos para enxergar. Acho que o amor é a forma mais terrena de magia que conhecemos. "Conhecemos."

Como se pode definir o amor? Qual a diferença entre paixão e amor? Bom, eu tenho uma opinião momentânea sobre o assunto. Para começar essa diferenciação, amor não se conquista, a paixão sim, nela existe todo um jogo de convencimento e conhecimento, quando esse jogo acontece entre as duas partes, chamamos de recíproca. Com o amor não é tão complicado, ou ele existe, ou ele não existe, você não pode convencer alguém a amar você.

O amor muitas vezes não é recíproco, nele, assim como na paixão, há dor, sofrimento, ansiedade, angústia, medo... mas no amor, diante de tudo isso, está tudo bem. Dói quando sua mãe briga com você porque você fez algo errado, dói quando sua ou seu melhor amigo para de falar contigo por algum motivo, dói quando a garota ou o cara que você gosta não gosta tanto assim de você, a falta de reciprocidade é inaceitável para a paixão, para o amor, fica tudo bem de uma forma ou de outra.

A paixão invade, o amor reside. A paixão é aquele sentimento repentino que preenche, nada mais importa diante dela e toda sua imensidão, todas as nossas decisões vão se remeter a ela. O amor dá brechas para outros sentimentos, é possível amar alguém e não gostar daquela pessoa ao mesmo tempo, parece bobo, mas isto nos dá o poder de fazer nossas próprias escolhas e optar por um caminho diferente. Surpresa! O amor permite que a paixão coexista.

O amor é individual, ele é seu, só você sabe o tamanho e a forma que ele se expressa, não me pergunte porque nós somos tão desesperados por demonstrá-lo, isto ainda é um mistério para mim, acredito que é porque ele transborda tanto que queremos passá-lo adiante, sim, acho que é isso, passá-lo adiante nos faz feliz.

O amor é infinito, o que basicamente significa que você não vai se livrar dele, o que não significa que "se você ama, você vai abrir mão de toda sua vida", lembre-se que a escolha sempre vai ser sua. É por isso que falam da importância de ter amor próprio, diz respeito de não se deixar levar pelo sentimento por outro e acabar colocando o outro antes de você, só não vá usar isso de desculpa para fazer decisões idiotas.

Sobre o seu amor por outro alguém: era aqui que eu queria chegar, afinal, se você analisar tudo o que eu falei, vai achar isso no seu amor pela família, por certas músicas, certos lugares, por exemplo. Mas e quando se trata do "mais um"?

Quando o amor é recíproco, e eu estou falando de uma forma mais restrita de reciprocidade, isto é, quando duas pessoas se amam igualmente, nem um pouquinho a mais, nem um pouquinho a menos. Há paixão, há tristeza, há brigas, há carinho, há devoção, há tudo, mas o amor sempre basta.

É claro que tudo aqui é uma mera opinião minha, nem eu tenho uma ideia construída e definitiva sobre o amor, ainda estou aprendendo. Eu só sei duas coisas, uma: se você ama algo, digamos, o céu, você olha para o céu e sente o infinito te preenchendo como se este único momento durasse sua vida inteira, o céu não fez nada por você, ele está lá, e você ama assim, inexplicavelmente, e se você pode sentir em alguém o mesmo que você sente à frente de todas as coisas que ama, bom, você está ferrado, amigo, mas eis uma notícia boa, vai ficar tudo bem. E dois: não existe amor verdadeiro, o amor em si, é verdadeiro. E isto basta.

26 março 2015

Sobre os amigos de terceirão

Já faz quase um ano e meio desde que me formei no ensino médio, o terceiro foi o melhor ano da minha vida até então. Muitas coisas ruins aconteceram, mas muitas coisas boas me ajudaram a lidar com as ruins; e apesar de toda aquela pressão para passar no vestibular, os meus amigos faziam tudo valer mais a pena. A escola em que formei, foi uma das únicas em que eu me identificava com a sala, me sentia em casa e até tinha gosto em ir pra escola, o dia da colação de grau foi muito triste, ter que me despedir deles foi muito difícil, eu tinha colegas, amigos e irmãos no meio daquela gente toda, o que me consolava era acreditar que a nossas amizades perdurariam depois que tudo acabasse. E como ficam as amizades depois que o colegial acaba?

Não ficam. Desculpe matar todas as esperanças, mas é verdade, não acontecem com todas, aquelas mais íntimas ficam de uma forma ou de outra, outras ficam, mas só se falando periodicamente e por aí vai. A amizade mesmo não fica. Não sei se são os caminhos distintos ou os laços que não eram tão fortes que somem com toda a magia, no início parece que vai ficar tudo bem, meses depois é só uma lembrança, uma lembrança maravilhosa.

Essas coisas me deixam triste porque eu odeio perder amigos, ainda mais aqueles que eu considerava minha segunda família, mas é a ordem natural das coisas, nossa vontade nem sempre é o bastante para segurar o mundo inteiro, as coisas mudam, as pessoas mudam, é preciso aceitar, e respeitar o espaço delas. Por eu ter mudado de cidade, parece que 100 Km se transformam em um abismo profundo, uma ida sem volta. O desafio é transformar a saudade em um sentimento bom, eu uso a consciência de que eu aproveitei cada segundo ao lado deles para isso, mas eu estaria mentindo se dissesse que não sinto falta, e como eu sinto.