Acordei com a estranha sensação de que alguém segurava minha mão. Acordei para um mundo de plástico, onde ao invés de reciclá-lo, reciclamos dinheiro, pessoas e amor. Recebemos aqui, gastamos ali. Usamos aqui, largamos ali. Cultivamos aqui, desmatamos ali. O tempo flui mais rápido que o cronômetro do nosso smartphone de última geração pode contá-lo; enquanto eu escrevo, o planeta está girando como se o dia não durasse mais que um segundo, os borrões de pessoas que passam à minha volta não tem rosto, emoções ou alma. Meras máquinas da mecânica industrial do capitalismo, meros escravos de suas próprias mentes, meros habitantes de uma realidade deprimente. Depressões, problemas cardíacos, respiratórios, neurológicos, psicológicos, cânceres: não se engane, não são doenças comuns à nossa atual existência, são sintomas. Sintomas dos parasitas que consomem nosso tempo, propósito e vida. Sintomas que camuflamos com o consumo incansável de bens não duráveis, saciando a ganância desses parasitas até que nossos bolsos estejam vazios. Escondemos tanto os sintomas que esquecemos de buscar a cura para a verdadeira doença. Acusamos defeitos incorrigíveis alheios como forma de compensar os erros medíocres que cometemos. Sofremos e gostamos de sofrer, a dor substitui os batimentos cardíacos que constituem o ato de estar vivo, não necessariamente vivendo de fato, o significado de viver talvez seja a pergunta do século. Nos comunicamos globalmente em um simples toque, mas esquecemos de quem está ao nosso lado. Objetivamos sonhos platônicos e mutáveis para provar nossa coragem, deixando os desejos legítimos conservados para executar quando não tivermos mais disposição para tal. A sociedade será justa assim que conseguirmos conceituar ética de forma unânime, contanto que não nos autodestruamos primeiro. Neste momento, eu acenarei de mãos dadas com o homem que vendeu o mundo.